A copa do mundo e o evangelismo
- Projeto Missionário Compaixão
- 16 de jun. de 2014
- 5 min de leitura
Atualizado: 17 de mar.

Porque não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego — Romanos 1.16. Em 2014 o nosso país irá realizar a vigésima edição da Copa do Mundo FIFA. Pela segunda vez esse torneio terá o Brasil como anfitrião, a primeira foi em 1950, uma final no Maracanã em que o Brasil perdeu para o Uruguai. Desde de junho de 2011 que 31 seleções avançaram através de competições de qualificação, o Brasil já estava firmado com sua vaga garantida por ser o país sede. Doze cidades do Brasil sediarão 64 jogos, a competição será disputada entre 12 de junho à 13 de julho, ocorrendo pela quinta vez na América do Sul. Faltando apenas 43 dias para a copa do mundo, como vemos nos comerciais das emissoras do nosso país, nas reportagens esportivas, nas notícias em jornais e nas redes sociais. Muitos que são contra a copa do mundo (inclusive eu, diante de tal investimento e organização) por vários motivos, pelo qual não seria interessante falar nesse texto, não estão tão confiantes na vitória da seleção brasileira, a preocupação é a "pós-copa". Nosso sistema de saúde, transporte, segurança, educação e tantos outros problemas que haverão de surgir, ou piorar ainda mais a situação. É bem verdade, que após a Copa das Confederações, Copa do Mundo, eleições e olimpíadas nós não imaginamos qual será a realidade do nosso país. Mas qual oportunidade teríamos na Copa do Mundo em relação a grande comissão? A igreja evangélica parece que começou a se virar para um lado e para o outro, e com uma sonolência enorme, tenta esfregar os olhos e perceber que falta tão pouco. Outras ainda não se deram conta! Mas o que tem haver, evangelização e Copa? O discurso em vários templos, em várias denominações evangélicas torna-se enfático de uma hora para outra. "Precisamos evangelizar!", "Vamos fazer a diferença!", "Não podemos perder essa oportunidade, os povos estarão nas nossas ruas!". Se não fosse irônico seria trágico. A questão é: Agora é a hora? Vamos agora tentar construir uma forma contextualizada de pregar o evangelho? Não sou contra evangelizar durante a Copa, em hipótese alguma, nem da forma contextualizada, visto que, podemos ser fiéis as Escrituras trazendo uma abordagem coerente. A problemática é sobre o conceito do que significa evangelizar, que difere muito de abordagens, métodos, rituais e modismo. Quero nesse texto fazer exceções há algumas agências, ministérios que há anos vem se preparando para esse momento. Conheço a CBE, Atletas de Cristo e a AMMEEVANGELIZAR que tem dedicado anos para esse momento importante que realmente é propício para uma abordagem evangelística. Contudo, o que dizer da cara de sono das outras (igrejas) que a ficha começou a cair? Venho por meio desse texto pontuar o que não é evangelização, não com o objetivo de sistematizar ou expor uma doutrina a respeito da grande comissão, porém esclarecer o que realmente não condiz com a ordem de Jesus de ir pregar o Evangelho. As igrejas desejam ir aos estádios, se unir umas com as outras para abordar as pessoas de todos os povos, mas esquecem do conceito de evangelização bíblica. A importância da comunicação com outras culturas e nacionalidades para desenvolver uma abordagem bíblica e não reinventada, acrescentada ou muito menos reduzida do Evangelho. Observo constrangida o pragmatismo de várias denominações por conta da Copa, parece que a evangelização tornou-se um evento ao invés de uma maneira de viver. A Copa é apenas um evento a nível mundial, a evangelização é uma ordem que deve ser obedecida por todo cristão. Se a igreja quer fazer algo durante os jogos, antes viva isso na prática diária. A evangelização tem um alvo excelente, a Glória de Deus. O evangelho é o poder de Deus para a salvação do homem. (Rm 1.16) Contudo, evangelizar é apresentar uma teologia. Muitos fazem distinção, pensam que teologia nada tem a ver com a evangelização. Me responda o quanto de teologia tem nessa frase: "Jesus quer salvar você"? . Nessa frase tão carregada de teologia encontramos a necessidade do entendimento sobre a obra de Cristo, sobre os decretos de Deus (desejo de salvar), sobre a doutrina da salvação, redenção. Sobre o estado depravado do homem, sobre a graça de Deus, isso é teologia - conhecimento de Deus. Nas palavras do Packer(1), evangelização é: "De acordo com o Novo Testamento, evangelizar significa simplesmente pregar o evangelho, as boas novas. Trata-se de um ministério de comunicação, no qual os cristãos tornam-se porta-vozes da mensagem de misericórdia de Deus aos pecadores. Qualquer um que transmita fielmente esta mensagem, não importa sob que circunstâncias, em uma grande reunião, em uma pequena conferência, de um púlpito, ou em uma conversa particular, estará evangelizando. Visto que a mensagem divina encontra o seu ponto alto no momento do apelo, da parte do Criador para o mundo rebelde, a que se converta e deposite a sua fé em Cristo, sua transmissão significa a convocação dos ouvintes à conversão." Nas palavras do Joel Beek(2), evangelização é: "Nós precisamos definir a evangelização em termos do significado da própria palavra. Evangelização vem de uma palavra grega que significa "boas novas". Assim, poderíamos definir a evangelização como sendo a proclamação das boas novas, a proclamação do evangelho. Nele buscamos, pela graça de Deus, a conversão de pecadores. Num sentido mais amplo podemos dizer que inclui a edificação dos filhos de Deus. Inicialmente, a evangelização procura a conversão de pecadores e no sentido mais amplo, procura o discipulado daqueles que já nasceram de novo." O Apóstolo Paulo disse: "Não me envergonho do Evangelho", mas o que diria Paulo ao ver os 'evangélicos' fazendo esse tipo de 'evangelização'? O que não é evangelização? Podemos definir o que não é, tornando esclarecido o conceito final. Evangelização não é teatro, não é dança, não é entrega de folhetos, não é testemunho de experiências, não são atividades sociais, não é levar aos estrangeiros a fazerem embaixadinhas, não é sair com uma camisa evangélica, não é colocar uma faixa, nem pintar uma parede. Evangelização não é definida pelos resultados, nem pelo os termos usados por aquele que vão receber a mensagem e nem muito menos pelos métodos utilizados. Não sou contra, repito, as diversas abordagens, mais isso não é evangelização! O apóstolo Paulo escreve para Corintos e declara: 2 Coríntios 5.20: De sorte que somos embaixadores por Cristo, como se Deus por nós vos exortasse. Rogamo-vos, pois, por Cristo que vos reconcilieis com Deus. Ser embaixador não é aquele que fala de si mesmo nem muito menos de suas experiências, ser embaixador é aquele que fala de outro, por meio dele. Evangelizar não é falar de crenças e sim de fatos. As boas novas, fato consumado. Calvino(3) de acordo com esse verso diz: "Em suma, os ministros da igreja são embaixadores a fim de testificarem e proclamarem a bênção da reconciliação, unicamente sob a condição de falarem do evangelho como uma garantia legítima para o que eles dizem" Portanto, se as igrejas querem aproveitar o evento que o nosso país irá realizar, façam de forma bíblica, pura e simples. Na igreja primitiva a proclamação era: Arrependei-vos e credes no Evangelho. No entanto, devemos lembrar que evangelização deve ser antes e depois da copa, em todo o tempo. Somos ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus. (1Co 4.1-2) Atos dos Apóstolos 2.38-39 "Pedro então lhes respondeu: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo. Porque a promessa vos pertence a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe: a quantos o Senhor nosso Deus chamar." A Deus toda a glória, Romanos 11.36. (1) A Evangelização e a Soberania de Deus, p 37. (2) A Tocha dos Puritanos, p 12. (3) Série Comentários Bíblicos, 2 Coríntios - Editora Fiel, João Calvino p 157.
Membro da Segunda Igreja Presbiteriana de Maranguape II. Bacharel em Teologia com concentração em Missiologia — STPN, pós graduada em Teologia Exegética — SPN, mestre em Estudos Teológicos — MINTS. Trabalha com Tradução das Escrituras e faz parte do Projeto Missionário Compaixão e Eva Reformada.
Comments