A culpa é das estrelas?
- Projeto Missionário Compaixão
- 2 de jul. de 2014
- 5 min de leitura
Atualizado: 17 de mar.

Semana passada pude assistir esse tão falado filme. Em sua estreia, no dia 5/6/2014, superlotou as salas de cinema, em sua grande maioria com casais apaixonados. Segundo o livro escrito por John Green, com direção de Josh Boone, o filme realmente emociona. Com a sua história contada de forma romântica e dramática ao mesmo tempo, uma jovem que em meio a um estado delicado de saúde por conta do câncer, se apaixona por um jovem que também havia sido acometido por uma outra forma dessa mesma doença. O filme brilha do começo ao fim, conduzindo o telespectador num ritmo misto de surpresas e emoções. Apaixonados, os protagonistas vivem em seus últimos dias uma grande história de amor, deixando de forma ressonante após o filme a ideia do "infinito amor", que "existe um arco íris em cada tempestade", que precisamos "viver a nossa dor e não fugir dela". A ideia é a de como viver quando estamos nos estágios finais de uma doença. No entanto, impressiona como conseguem lutar contra a noção de que podem morrer a qualquer momento, isso motivados pelo grande romance. Um deles, deseja minimizar a dor que vai ser causada pela morte, e o outro deseja deixar uma marca com a sua vida para todos ao seu redor. A questão do filme não vai tratar especificamente de algo que quero mencionar de forma bem introdutória aqui, porém, levou-me a pensar nisso e creio que pode levar alguns a pensar também. A culpa é das estrelas? O filme termina numa frase, uma carta escrita que deveria ser lida no momento certo, dando a entender a continuidade da história mesmo sofrendo tal perda. Hoje, no meio dos cristãos, não é difícil encontrarmos alguém culpando Deus por alguma coisa em suas vidas, na verdade, as pessoas em qualquer lugar e de qualquer religião atribuem a Deus falhas, culpando-O de alguma coisa. O problema do mal (teodicéia), é realmente um assunto bastante complicado e intenso nas discussões teológicas, meu propósito não é resolvê-lo, porém, quando pensamos nos decretos eternos e imutáveis de Deus, logo vem em mente a questão do mal. Vejamos o que diz a Confissão de Fé de Westminster (3:1, 5:2, 4): Desde toda a eternidade, Deus, pelo conselho sábio e santo de Sua própria vontade, livre e imutavelmente, ordenou tudo o que venha a ocorrer: ainda assim, nem Deus é o autor do pecado, nem a vontade das criaturas é violentada, nem a liberdade ou contingência das causas secundárias deixa de existir, sendo, ao invés, estabelecida. Apesar de que, pela presciência e pelo decreto de Deus – a primeira causa –, todas as coisas venham a ocorrer de modo imutável e infalível; ainda assim, pela mesma providência, Ele ordena que elas aconteçam de acordo com a natureza das causas secundárias, seja de modo obrigatório, ou livre, ou contingencial. O poder ilimitado, a sabedoria insondável e a bondade infinita de Deus, manifestam-se na Sua providência, que inclui até mesmo a primeira Queda e todos os outros pecados de anjos e homens, não como uma simples permissão, mas de modo tal que reúne a sabedoria e o poder limitante de Deus, que os ordena e governa para os Seus objetivos sagrados; e ainda assim, a pecaminosidade do ato procede apenas da criatura e não de Deus, que, sendo o mais santo e justo, nem é nem pode ser o autor ou aprovador do pecado. Deus preordenou todos os nossos dias, escreveu nossos dias antes que cada um deles viesse a existir (Sl 139.16). Deus preordenou todas as coisas e isso abrange a tudo. Do mesmo jeito, antes da fundação do mundo, também predestinou conforme o conselho soberano da sua vontade (Ef 1.4). A palavra nos diz que é para sempre, inalterado e imutável. Olhar para os decretos eternos, sábios, santos e livres de Deus e tentar harmonizar com a questão do mal é um tanto desafiador. O mal existe, muitos questionam o "motivo" ou o "autor" do mal. Seria necessário começar com o que as Escrituras declara sobre isso, acredito que a depravação total, o estudo sobre o homem em relação a Queda, nos ajudará bastante nesse ponto. O mal existe para a glória de Deus e para o bem do homem! Atribuir a satanás de forma absoluta toda a questão do mal, é contrapor com a onipotência de Deus, como disse Lutero: "O diabo é o diabo de Deus". Temos como exemplo disso o diálogo de Deus e satanás no livro de Jó. Não é o "acaso", "coincidências", "destino" ou "sorte"! São os decretos de Deus que tem como objetivo a manifestação da Sua Glória. Vejamos uma porção das Escrituras que nos mostra a vida de Jó, logo no primeiro capítulo, é falado algo sobre ele que me chama muito atenção. O propósito desse pequeno texto é observar, através de um homem, como agir em relação a questão do mal. No discorrer do primeiro capítulo encontramos tamanha adversidade, vemos esse homem sofrendo grandes perdas e tormentos. Logo no primeiro verso, o testemunho desse homem da terra de Uz, o maior de todos os do Oriente, é algo digno de ser lembrado. Homem temente a Deus, que desviava-se do mal, reto e integro. (Jó 1.1) Alguém pode questionar, e Jó merecia isso de Deus? Jó 1.22: Em tudo isso Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma. Esse homem, diante de uma situação tão adversa, nos ensina como agir quando na preordenação de Deus, ou seja, nos Seus Decretos, existem dias de perdas e males. O que Jó fez deve nos advertir a como enfrentar essa situação: Jó 1.20-21: Então Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a sua cabeça e, lançando-se em terra, adorou; e disse: Nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá. O Senhor deu, e o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor. No segundo capítulo, ainda contemplamos uma atitude singular de Jó, satanás havia dito, que deveria ser "pele por pele" e tudo o que o homem tem daria por sua vida (Jó 2.4), e Jó reage: Jó 2. 9-10 "Então sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua integridade? Blasfema a Deus, e morre. Mas ele lhe disse: Como fala qualquer doida, assim falas tu; receberemos de Deus o bem, e não receberemos o mal? Em tudo isso não pecou Jó com os seus lábios." Ao entender que em Seus Decretos, Deus tanto preordenou como predestinou todas as coisas, isto é, antes da fundação do mundo Deus estabeleceu os fins associado com os meios, não se deve imputar falhas ou erros em Deus. Logo, devemos pensar como Deuteronômio 29.29: As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei. Deus é soberano e no controle de tudo está também a questão do mal, sejamos como Jó, não como bom entendedores das coisas encobertas, mas sim verdadeiros adoradores! A culpa é das estrelas? Não, não! Nem Deus falha, nem erra! Romanos 8.28: E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. A Deus toda Glória, Romanos 11.36.
Membro da Segunda Igreja Presbiteriana de Maranguape II. Bacharel em Teologia com concentração em Missiologia — STPN, pós graduada em Teologia Exegética — SPN, mestre em Estudos Teológicos — MINTS. Trabalha com Tradução das Escrituras e faz parte do Projeto Missionário Compaixão e Eva Reformada.
Comments