Os atributos de Deus: Misericórdia

Atributos comunicáveis são indicações da natureza pessoal de Deus, evidenciados na sua relação para com a Sua criação. Esse termo "comunicáveis" remete as possíveis características encontradas na nossa personalidade, isto é, traços dos atributos divinos em nosso ser, a comunicação de Deus em nós numa medida bem limitada. Alguns teólogos dividem esses atributos em intelectuais, morais e soberanos. Isaías 54.7,8,10 "Por um breve momento te deixei, mas com grande compaixão te recolherei; num ímpeto de indignação escondi de ti por um momento o meu rosto; mas com misericórdia eterna me compadecerei de ti, diz o Senhor, o teu Redentor. Pois as montanhas se retirarão, e os outeiros serão removidos; porém a minha misericórdia não se apartará de ti, nem será removido ao pacto da minha paz, diz o Senhor, que se compadece de ti." CONCEITO A misericórdia de Deus é um atributo moral, referindo-se à bondade, ternura e compaixão de Deus. Um atributo que Deus manifesta sem acepção de pessoas, manifestando Sua Natureza e Seu Ser infinitamente compassivo. A bondade de Deus revela a Sua misericórdia para com o pecador, esse entrelace provoca tanta semelhança que muitas vezes não conseguimos distinguir. Dos atributos mais falados no meio cristão, a misericórdia muitas vezes toma o primeiro lugar. Contudo, não há uma boa definição a respeito do significado teológico sobre misericórdia. O termo latino que tem uma ideia de "ter o coração na miséria", deriva a palavra "misericórdia", que tem a semelhança da palavra compaixão, significando sofrer com o outro, sentir a dor do próximo. Misericórdia seria uma declaração da bondade de Deus, refletindo o Seu amor para com os miseráveis, sem medir se de fato merecem receber ou não. Deus é eternamente misericordioso e Sua Palavra declara que é infinito esse atributo. Essa manifestação de Deus para o homem foi após a sua queda, ou seja, a misericórdia pressupõe sempre o pecado. Segundo Heber Carlos de Campos [1], "Não se pode entender a manifestação da misericórdia à parte da Queda [...] A misericórdia de Deus é simplesmente a não imposição da penalidade sobre o pecador, com base na justiça divina que cai sobre outro que toma o lugar do pecador, que é Jesus Cristo." O estado do homem foi afetado profundamente, tornando-o depravado totalmente, contudo a misericórdia de Deus se manifestou, em Cristo teve seu ápice. No entanto, na Sua natureza e essência Deus sempre foi misericordioso. Segundo afirma Paulo Anglada [2], "As Escrituras empregam principalmente quatro palavras para designar esse atributo de Deus: uma hebraica (raham) e três gregas (σπλαγχνα, έλεος e οικτιρμος). Algumas dessas palavras têm significado literal bastante interessante. O termo hebraico "raham", compaixão, misericórdia, significa literalmente, "intestino". A palavra grega correspondente empregada no Novo Testamento (σπλαγχνα) significa literalmente "entranhas". Esses dois termos são empregados com o sentido metafórico de misericórdia, compaixão, piedade, dó, visto que as entranhas ou intestino humanos simbolizam a sede dos sentimentos e emoções - assim como hoje usamos a palavra coração." EXPOSIÇÃO BÍBLICA Revelando a sua misericórdia sobre a criação de uma forma geral: Salmos 145. 8-9 "Bondoso e compassivo é o Senhor, tardio em irar-se, e de grande benignidade. O Senhor é bom para todos, e as suas misericórdias estão sobre todas as suas obras." Salmos 116.5 "Compassivo é o Senhor, e justo; sim, misericordioso é o nosso Deus." Revelando a sua misericórdia sobre a raça humana: Salmos 51.1 "Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias." Lamentações de Jeremias 3. 22-23 "A benignidade do Senhor jamais acaba, as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade." Efésios 2.4 "Mas Deus, sendo rico em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou" Sua Natureza e Seu relacionamento com o homem: Salmos 103.8-13 "Compassivo e misericordioso é o Senhor; tardio em irar-se e grande em benignidade. Não repreenderá perpetuamente, nem para sempre conservará a sua ira. Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui segundo as nossas iniquidades. Pois quanto o céu está elevado acima da terra, assim é grande a sua benignidade para com os que o temem. Quanto o oriente está longe do ocidente, tanto tem ele afastado de nós as nossas transgressões. Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem." POSSÍVEIS DIFICULDADES E SOLUÇÕES A grande questão é a duração desse atributo divino. Deus infinitamente misericordioso será sempre misericordioso para com todos? A resposta pode não ser satisfatória para alguns, no entanto, a duração da misericórdia divina depende de quem é o objeto da mesma. A dúvida pode surgir, de acordo com o Salmo 136, a misericórdia do Senhor dura ou não para sempre? Precisamos realmente, compreender bem a questão da misericórdia divina. Além da misericórdia de Deus existe a Justiça de Deus, essa Justiça será manifesta completamente no devido tempo. A ira divina é derramada de forma parcial (Rm 1.18), no entanto chegará o dia que será manifestada de forma completa sobre os ímpios (Ap 6.16-17). E não haverá misericórdia! (Hb 10.26-28; Tg 2.13) É importante entender partindo da eleição incondicional, do objeto da qual a misericórdia se aplica. A justiça e a misericórdia não podem ser manifestas ao mesmo tempo numa mesma pessoa. Deus em Sua misericórdia não pune o pecador, porém, em sua justiça é derramado a devida punição. A única maneira da misericórdia triunfar sobre o juízo é quando Cristo substitui o réu, livrando-o da punição e a tomando para si. A misericórdia de Deus com os não regenerados é temporária, Deus é misericordioso por um tempo determinado, suporta os pecados deles e não os trata como de fato merecem. No Salmo 73 observamos a paciência de Deus e a misericórdia de Deus para com os ímpios, eles são abençoados e prosperam, mas isso não será para sempre. Existe uma diferença entre o regenerado e o não regenerado, para com o regenerado a misericórdia dura eternamente (Ex 20.5-6; Sl 103.17). Uma infinita misericórdia para com aqueles a quem o Senhor decidiu salvar, a cada manhã essa misericórdia é renovada (Lm 3.22-23). Interessante é compreender que o fato de Deus ter enviado Cristo ao mundo, não significa que Ele é a causa da Sua misericórdia e sim que Ele é o resultado da Sua misericórdia. Cristo é a manifestação poderosa da misericórdia divina, a causa da misericórdia tem a ver com a vontade soberana de Deus. Afirma com firmeza o autor do livro "O Ser de Deus e os Seus Atributos" [3]: "Há diferença entre Deus ser misericordioso e ele manifestar misericórdia. [...] Deus não pode deixar de ser misericordioso porque a misericórdia é uma qualidade essencial nele. [...] O exercício ou manifestação da sua misericórdia é regulada pela sua vontade soberana." (Rm 9.14-18). Portanto, quando lemos o texto Bíblico entendemos que Deus de forma como lhe apraz soberanamente manifesta a quem quer a Sua misericórdia. APLICAÇÃO Deus não nos trata segundo os nossos pecados! (Sl 103.10) Como é grande, eterno e infinito esse atributo divino. A misericórdia abre o caminho para vivermos uma vida na poderosa obra da graça de Deus em nós. Alguém pagou a penalidade devida pelos nossos pecados, perdão imputado sem merecer. Conhecer a Deus, também significa viver essa misericórdia diariamente, o nosso Deus transmite seu amor para conosco através da Sua misericórdia. E Ele mesmo nos ordena a ser misericordiosos uns com os outros. (Lc 6.36) Devemos praticar a misericórdia, isso foi ordenado nas Escrituras. (Zc 7.9; Cl 3.12-13; Mq 6.8) Louvemos ao Senhor, pois Sua misericórdia não tem fim sobre os Eleitos! A Deus toda glória, Rm 11.36.

[1] CAMPOS, Heber Carlos. O Ser de Deus e os Seus Atributos, p. 290-292. [2] ANGLADA, Paulo. Soli Deo Glória. O Ser e Obras de Deus, p. 78. [3] CAMPOS, Heber Carlos. O Ser de Deus e os Seus Atributos, p. 296-297.

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Morgana Mendonça dos Santos

Membro da Segunda Igreja Presbiteriana de Maranguape II. Bacharel em Teologia com concentração em Missiologia — STPN, pós graduada em Teologia Exegética — SPN, mestre em Estudos Teológicos — MINTS. Trabalha com Tradução das Escrituras e faz parte do Projeto Missionário Compaixão e Eva Reformada.