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Uma introdução sobre arrependimento na perspectiva do Thomas Watson


O livro Doutrina do Arrependimento (Editora PES) tem marcado minha vida de forma singular. Irei expor nesse pequeno rascunho pontos importantes sobre o que significa arrependimento numa perspectiva puritana de um teólogo relevante em seu tempo e super admirado no nosso.


Thomas Watson foi ministro da Igreja de Santo Estevão, Walbrook, no século dezessete. Nascido em 1620, estudou em Cambridge (Inglaterra). Em 1646, iniciou um pastorado de dezesseis anos em Londres. Entre suas principais obras, estão o seu famoso Body of Pratical Divinity (Compêndio de Teologia Prática), publicado postumamente em 1692. Mais informações sobre Watson aqui.


É perceptível como hoje quase não existe em nossas igrejas um ensinamento sobre a doutrina do arrependimento. Pouquíssima ênfase é dada na intolerância sobre viver uma vida alienada em relação à prática da confissão e arrependimento. O conceito sobre arrependimento tem sido travestido de influências humanistas e/ou psicológicas. Pergunte-se: o que é arrependimento? E tente evitar ao máximo conceitos relativizados e pluralizados.


Antes do grande escopo sobre componentes do arrependimento descrito por Watson, que seriam: percepção do pecado (1), tristeza pelo pecado (2), confissão de pecado (3), vergonha pelo pecado (4), ódio pelo pecado (5) e abandono do pecado (6). Temos o significado do arrependimento em sua perspectiva como uma graça do Espírito de Deus pela qual o pecador é movido a humilhar-se interiormente e é reformado visivelmente. Ele diz também que as duas grandes graças essenciais ao santo nesta vida são a fé e o arrependimento. Uma de suas célebres frases sobre o assunto nesse livro é: nenhuma ocasião é imprópria para o arrependimento; é de uso tão frequente como a ferramenta do artesão ou a arma do soldado.


Nesse livro o assunto é explanado de forma clara e bem enfática, nesse texto quero apenas esboçar o conceito, que é interessante perceber com o óculos do autor que existe o verdadeiro e o falso arrependimento. Ele diz que seríamos mais felizes se sentíssemos mais profundamente o pecado e se os nossos olhos fossem inundados de lágrimas. Citando Tertuliano logo nas primeiras páginas do seu livro (Watson, 1668), é dito que o mesmo achava que não tinha nascido para outro fim, senão para arrepender-se. Por colocar a fé e o arrependimento como as duas grandes graças essenciais para o cristão, Watson ilustra um exemplo: assim como quando uma vela é introduzida. Num quarto a luz se mostra primeiro, mas a vela existia antes de se ver a luz, assim também vemos primeiros os frutos do arrependimento, mas os começos da fé já estavam presentes. De acordo com esse exemplo devemos concordar que o arrependimento é uma graça de Deus, no entanto, o dom da fé precede-o permitindo que a ação do arrependimento seja provocado por alguém já vivificado.


Em Mateus 3.2, Atos 3.19, Atos 8.22 percebemos quanto o fundamento dessa doutrina é importante para edificação da igreja requerido pelo evangelho. O próprio Cristo em Mateus 4.17 usou nas primícias das suas proclamações essa verdade como fundamento e na sua ascenção deixou a ordem de que em Seu nome fosse pregado arrependimento (Lucas 24.47). Na confissão de fé de Westminster, capítulo XV- IV, nos é dito sobre essa doutrina: "Como não há pecado tão pequeno que não mereça a condenação, assim também não há pecado tão grande que possa trazer a condenação sobre os que se arrependem verdadeiramente". (Rm. 6.23; Mt. 12.36; Is. 55.7; Rm. 8.1; Is. 1.18).


O arrependimento pode ser falso e fabricado, Watson escreve afirmando a imitação por conta do medo da lei, por uma resolução passageira e por um falso abandono. Seu pensamento discorre por primeiramente haver uma sensação de amargura que o pecado promove, mas logo passa. Não se pode concluir, ser um verdadeiro penitente aquele que sentiu alguma amargura pelo seu pecado, Acabe e Judas tiveram alguma inquietação mental. Ele diz que uma coisa é ser um pecador aterrorizado, outra é ser um pecador arrependido. Sentimento de culpa é diferente da infusão da graça. Se a dor e a aflição fossem suficientes para o arrependimento, diz Watson, os condenados no inferno seriam os maiores penitentes. O verdadeiro arrependimento provoca mudança de coração, enquanto não existe, o que temos é um falso processo de culpa.


Em segundo lugar, muitos fazem grandes resoluções em meio as aflições e dores, prometem e fazem votos, no entanto, essas resoluções logo se desvanecem. É como uma neblina, na próxima tentação o seu coração é evidenciado da mesma forma. A resolução contra o pecado pode surgir devido a uma situação extrema de dor, não porque o pecado é grave e agride a santidade de Deus. Ou do temor de um futuro arruinado, causado pela morte e pelo inferno. O penitente será pressionado a fazer qualquer tipo de voto quando a beira da morte sabe-se que vai comparecer diante do tribunal de Deus. A precipitação por uma resolução provocará o Senhor, e Ele não terá por inocente aquele em quem não foi encontrado arrependido genuíno.


O último ponto sobre essa ilusão acerca do arrependimento pressupõe um determinado abandono dos pecados porém sem a verdadeira motivação arrependida. Segundo Watson, o pecado pode ser abandonado, ainda que sem arrependimento. O verdadeiro abandono do pecado acontece quando os atos pecaminosos cessam pela infusão de um princípio da graça, como um ambiente deixa de estar escuro pela infusão da luz. Portanto, não devemos encobrir alguns pecados enquanto abandonamos outros, o verdadeiro arrependimento como diz Watson tem componentes que não podem ser reduzidos ou camuflados: visão do pecado, tristeza, confissão, vergonha, ódio e abandono. Todos esses componentes resulta num verdadeiro arrependimento para a glória de Deus.


O arrependimento é produzido pela Palavra pregada (Atos 2.37) e pelo Espírito (Atos 10.44) que convence o homem e aplica a palavra nos eleitos, fora isso, todo o arrependimento é fabricado e encontra-se entorpecendo sua mente e emoções. O que posso dizer além disso? Apenas que as Escrituras seja o alicerce da sua vida e que você possa fazer a leitura desse incrível livro do Thomas Watson. Rogo ao Senhor que como uma flecha esse texto seja direcionado e encontre o alvo do seu coração esfriado e endurecido pelo pecado, seja alvejado e volte-se ao Senhor.


E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes; e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em benignidade, e se arrepende do mal — Joel 2.13.


Nota

___________________

Livro texto: Watson, Thomas. A doutrina do arrependimento. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2012.

 

Morgana Mendonça dos Santos

Membro da Igreja Reformada em Paulista. Bacharel em Teologia com concentração em Missiologia — STPN, pós graduada em Teologia Exegética — SPN, mestranda em Estudos Teológicos — MINTS. Trabalha com tradução das Escrituras e faz parte do Projeto Missionário Compaixão e Eva Reformada.

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