O Teólogo e a vida de oração
- Projeto Missionário Compaixão
- 14 de fev. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 11 de mar.

É bem comum na vida acadêmica o assunto "oração" ser tratado como um grande desafio e uma profunda necessidade. Já ouvi diversas vezes que o teólogo e a oração são duas coisas difíceis de encaixarem-se. De fato, "sim e não" ao mesmo tempo. "Sim", porque muitos teólogos encontram na razão sua espiritualidade final. E "não", porque ainda existem teólogos vivendo grandes conflitos sobre a necessidade de uma realidade onde a fé e a razão andam juntas. "Se és teólogo, vais orar verdadeiramente; se oras verdadeiramente, és teólogo", disse o discípulo de Gregório Nazianzo, Evágrio Pôntico (345-399). Bom, sobre esse assunto, aconselho a leitura do primeiro capítulo do livro do Jonas - Inteligência Humilhada, sobre A Teologia diante de Deus. Cito um trecho: Mesmo porque, para ser inteligente, o teólogo precisa, em primeiro lugar, ser capaz de praticar a intelecção mais profunda que a mente humana pode realizar: a oração. Ora, é indubitável que a oração é a intelecção mais profunda do teólogo; porém, ao orar, o teólogo também oferece o testemunho mais patente de sua piedade (p. 27). Na verdade é um grande contrassenso um teólogo não gastar-se numa vida de oração. Entretanto, creio ser um desafio diário, e não somente doloroso como necessário. Às vezes, nossas necessidades ou desejos* estão numa distância de apenas uma oração. E como isso é verdadeiro, orar deveria ser um deleite para os teólogos. Inclusive temos testemunhos dos pais da igreja, reformadores e puritanos que viviam uma vida admirável de oração. Dizem que Lutero quando estava com o dia super ocupado gastava três horas orando. Para nossa vergonha enrustida, dizemos ser reformados, todavia, secos por vivermos vazios de um viver que deleita-se na oração. Nessa lista, coloco-me em primeiro lugar. Quão difícil é orar quando não temos o deleite na oração. Quão difícil tornar-se nossa vida quando temos de pregar sobre oração e não gastamos tempo orando pela mensagem que iremos proclamar. Quão difícil é perceber como estamos longe de viver como aqueles que citamos e lemos em nosso contexto acadêmico. Deve ser a vaidade! Não, deve ser o orgulho! Ou melhor, deve ser nosso desejo pelo refinamento das aparências. Por uma vitrine honrosa, nosso closets estão vazios de oração. O deleite pela leitura promove reputação, a exposição do intelecto teológico ou filosófico promove bons convites e acessos no meio acadêmico. Quanta tolice! Se o testemunho mais patente de uma vida piedosa é o labor na oração. Longe de mim desprezar o intelecto, rejeitar o fazer teológico. No entanto, COMO fazer teologia, deveria ser a nossa grande questão. Como fazer teologia? Se não for em oração com joelhos dobrados? Aí de mim, se isso não arder em minha alma até o último dia! Que eu encontre Nele o prazer de permanecer com Ele, muito mais tempo do que gasto em redes sociais e entretenimento. E como percebemos o "ídolo entretenimento" em nosso coração adormecido? Quando muitas vezes o entretenimento encontra primazia em nosso dia a dia, colocando nossa devoção a Cristo em lugares secundários. Um artigo que muito me ajudou, está "linkado" nos comentários. O Phillip, autor do texto, escreve como nós somos escravos do entretenimento: Eu falhei em reconhecer que minha busca interminável por diversão me transformou em um escravo. Meu amor por meu novo mestre foi sutilmente causando desprezo por Deus e reserva em meu dever de deleitar-me nEle. Uma teologia saudável formará teólogos dispostos para a oração. A maturidade teológica logo mostrará esse abismo necessário. Convém que sejamos inclinados a oração mais do que qualquer coisa que nos obrigue a distanciar dela. Dois livros tem sido um confronto pessoal na minha vida, o primeiro é do John Bunyan, Um Tratado sobre Oração. E o segundo é Deleitando-se na Oração do Michael Reeves. Livros que têm esmagado o meu coração obstinado a viver uma vida vazia de oração. Deixo-vos nas mãos desses homens que sabem o que é viver uma vida de oração, e me mantenho em grande lutas para apreciar esse deleite em minha história. “Orarei”, disse o apóstolo; e o mesmo diz o coração dos que são Cristãos. Portanto, tu que não oras não és Cristão. A promessa diz: “todo aquele que é santo orará a ti” (Salmo 32.6) - John Bunyan. Em outras palavras, a oração é a forma primária pela qual a fé verdadeira se expressa. Significa também que a vida sem oração é ateísmo prático, demonstrado na falta da crença em Deus - Michael Reeves. Como diz João Calvino sobre a oração: é o principal exercício da fé. “Nossa condição definitiva como cristãos é testada pelo caráter da nossa vida de oração. Isso é mais importante que o conhecimento e o entendimento. Não pensem que eu estou diminuindo a importância do conhecimento. Tenho passado a maior parte da minha vida tentando mostrar a importância de se ter um bom conhecimento e entendimento da verdade. Isso é de importância vital. Só há uma coisa que é mais importante: a oração. O teste definitivo da minha compreensão do ensino bíblico é a quantidade de tempo que eu gasto em oração... Se todo o meu conhecimento não me conduz à oração, certamente há algo de errado em algum lugar”.
- LLOYD-JONES, David Martin. Como está sua vida de oração? * Deus satisfará os desejos do nosso coração, conforme a Sua vontade.
Membro da Segunda Igreja Presbiteriana de Maranguape II. Bacharel em Teologia com concentração em Missiologia — STPN, pós graduada em Teologia Exegética — SPN, mestre em Estudos Teológicos — MINTS. Trabalha com Tradução das Escrituras e faz parte do Projeto Missionário Compaixão e Eva Reformada.
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